Muito tem se falado a respeito do uso de adoçantes artificiais nas últimas semanas, após dois relatórios sobre o tema serem emitidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Três Sociedades Científicas – Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) e Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade (ABESO) – observaram a necessidade de dar esclarecimentos e orientações sobre o uso de adoçantes e lançaram um posicionamento conjunto (acesse link para ler na íntegra).
Em 15 de maio de 2023, a OMS emitiu um relatório, sugerindo que adoçantes sem açúcar não sejam utilizados com a objetivo de controle de peso ou redução do risco de doenças crônicas, tais como o diabetes mellitus (DM). Entre os adoçantes estão incluídos diversos adoçantes como o aspartame, ciclamatos, sacarina, sucralose, estévia, entre outros.
Esta recomendação foi direcionada principalmente aos responsáveis por políticas de saúde pública, como governos, e deve ser interpretada com cautela para medidas individuais.
Tal recomendação foi baseada em estudos observacionais, sem fortes evidências, e a própria OMS sugere que haja ampla discussão antes de sua implementação. Essa sugestão faz parte de um conjunto de ações que a OMS tem realizado para promover menor ingestão de açúcar e estimular uma alimentação mais saudável, com maior presença de alimentos in natura e menos alimentos processados. Vale destacar que a OMS não recomenda que os usuários de adoçantes substituam seu uso por açúcar, e sim por alimentos mais saudáveis e menos processados.
Em 13 de julho de 2023, a OMS, em associação com a International Agency for Research on Cancer (IARC), Food and Agriculture Organization (FAO) e Joint Expert Committee on Food Additives (JECFA), publicou outro relatório, agora a respeito da segurança do uso do adoçante aspartame, um adoçante artificial utilizado há várias décadas em alimentos e bebidas industrializadas, a exemplo dos refrigerantes zero (diet), chicletes, sucos em pó, entre outros, e sua relação com o risco de câncer (mais precisamente o câncer de fígado).
As evidências disponíveis não nos permitem definir que a relação de risco foi diretamente causada pela exposição ao aspartame. Além disso, vale ressaltar que o comitê JECFA vinculada à OMS, emitiu nota informando que não há evidências para que a dose considerada segura do aspartame seja modificada (40mg/kg/dia -- o equivalente a 12 latas de refrigerante diet/zero por dia ou 60 sachês de aspartame por dia).
Sendo assim, as três Sociedades Científicas recomendam que:
1) Deve-se preferir, nos planos alimentares com o objetivo de perda de peso e prevenção de doenças crônicas metabólicas, a ingestão de alimentos in natura, em detrimento de alimentos processados adoçados com adoçantes artificiais. Aos usuários de adoçantes, NÃO É RECOMENDADO QUE TROQUEM SUA UTILIZAÇÃO PELO AÇÚCAR, destacando-se pacientes portadores de diabetes mellitus.
2) Individualmente, levando-se em consideração preferências de poladar e hábitos alimentares, com orientação profissional, o uso de adoçantes pode ser uma alternativa de ingestão de alimentos com paladar doce sem aumento de ingesta calórica. Vale ressaltar que, seu uso isolado, sem outras mudanças dos hábitos alimentares, não tem sido eficaz na redução de peso a longo prazo.
3) O consumo de aspartame até o limite de dose (40mg/kg de peso/dia) pode ser considerado seguro. Contudo, faz-se importante a realização de mais estudos para o maior esclarecimento da possível associação entre o consumo de aspartame e o desenvolvimento de câncer (principalmente de fígado).
Por: Saulo Emmanuel Sandes, médico endocrinologista (CRM SE 4400).
Aracaju, Sergipe.
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